O “papel” da cannabis na cultura e na ciência
Antes de ser proibida no século XX, a cannabis desempenhou um papel essencial na economia global, especialmente na Europa renascentista, onde se destacava como um dos produtos agrícolas mais importantes. Sua versatilidade permitia que fosse utilizada na fabricação de papéis, telas para pintura, além de diversos materiais indispensáveis para a navegação, como cordas, tecidos e velas de embarcações. Dessa forma, a cannabis não só contribuía para a arte, comunicação e ciência, mas também para o avanço das viagens e do comércio marítimo.
A palavra, “maconha” é um anagrama de “cânhamo”, que é uma variedade (cultivar) da espécie Cannabis sativa. Devido à baixa concentração de canabinóides em especial o THC o cânhamo não possui propriedades psicoativas.
Cannabis na Arte
Na Renascença, o cânhamo era amplamente utilizado na produção das telas de pintura, devido as suas fibras resistentes e duráveis.
A palavra “Canvas”, que significa “tela” (superfície onde se pinta) em várias línguas, é uma adaptação linguística holandesa do latim cannabis, originando a expressão “óleo sobre tela” (oil on canvas). A origem etimológica desta expressão evidencia como a cannabis estava intrinsecamente ligado à arte e à produção cultural da época.
Cannabis na ciência e na disseminação do conhecimento
Johannes Gutenberg, inventor alemão do século XV, amplamente reconhecido por criar a prensa tipográfica, uma inovação que revolucionou a comunicação e marcou o início da era da impressão, utilizou papel de cânhamo. Curiosamente, as primeiras 135 Bíblias impressas por Johannes Gutenberg foram produzidas em papel de cânhamo, representando um marco na disseminação do conhecimento.
Antes de sua invenção, os livros eram copiados à mão, um processo extremamente lento e acessível apenas à elite. A prensa de Gutenberg permitiu a produção em massa de livros, democratizando o acesso à informação e dando início à Revolução Científica e à disseminação das ideias renascentistas.
Além de sua invenção, a escolha do papel de cânhamo reflete o papel fundamental da cannabis na economia da época, e na difusão do conhecimento com o feito em questão. Esse material, altamente resistente e durável, era perfeito para documentos que precisavam atravessar séculos – como as Bíblias impressas por Gutenberg, uma das quais ainda está preservada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Ao ser utilizada na confecção de papéis e telas, além de materiais náuticos, a cannabis ajudou a moldar o desenvolvimento cultural, científico e comercial, influenciando a disseminação de ideias e a democratização do conhecimento. O impacto histórico da cannabis vai muito além de sua associação moderna, refletindo sua importância na formação do mundo que conhecemos hoje.
Bibliografia
BARROS, André; PERES, Marta. Proibição da maconha no Brasil e suas raízes históricas escravocratas. Revista Periferia, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, 2012. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/periferia/article/view/3953/2742. Acesso em: 8 jan. 2025.